quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Cultura internética

Eis duas posições radicalmente opostas a respeito de um mesmo tema:


"A novidade não está, portanto, na informação em si, mas na sua codificação e transformação, por força do computador e das capacidades crescentes das redes de comunicação, numa mercadoria susceptível de ser transferida sem constrangimento de tempo ou de espaço." - Maria Eduarda Gonçalves - Direito da Informação - Almedina

"Hoje já parece ser passé falar da 'Revolução da Internet'. Em alguns círculos acadêmicos, é algo definitivamente ingênuo. Mas não deveria ser. A mudança trazida pelo ambiente da rede da informação é profunda. É estrutural. Alcança mesmo as fundações sobre as quais mercados e democracias liberais co-evoluíram por quase dois séculos." - Yochai Benkler - The Wealth of Networks - Yale University Press

Será que a Internet proporciona uma mudança do conteúdo das informações? Em outras palavras, a informação em si sofre alterações em razão da mencionada ausência de restrições físicas ou temporais para sua transferência? Ou será que, ao contrário, a produção cultural continua se dando nos mesmos moldes de sempre?

Penso que Benkler está com a razão. Não estamos diante de uma simples alteração no modo como nossa produção cultural é transmitida, mas de uma revolução que atinge a própria produção cultural.

Lawrence Lessig já falou bastante sobre como a inter-relação entre código e cultura tem sido operada. A Web 2.0 concretiza a superação do modelo "read-only" em que eu, você e nossos pares éramos tão-somente consumidores daquilo que se produzia pelos grandes veículos na rede. No modelo "read-write", as figuras do autor e do leitor (abstratamente, do gerador do conteúdo e do consumidor do conteúdo) se confundem, e todos nós somos criadores da informação.

O que isso significa? Aquilo que é encarado como produção cultural tem um aspecto bastante diferente do que tinha antes da internet e, principalmente, antes da Web 2.0. Um excelente exemplo é o ranking do Alexa desta semana para o Brasil, que permite verificar quais os websites mais acessados a partir de diferentes critérios de filtragem.

Terra e Globo.com estão, respectivamente, na nona e na décima posição, enquanto Blogger.com está na décima segunda. Trocando em miúdos, aquilo que sempre foi considerado como a grande mídia é quase tão lido pelos internautas brasileiros quanto aquilo que antes era considerado nada mais que um hobbie pessoal. É impossível negar que isso significa uma enorme mudança das nossas fontes de conhecimento, informação e cultura. Se isso é bom ou ruim já é uma outra questão. À primeira vista, acho sensacional.




>>>Referências:





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